Inovação! – esse é um grito de guerra comum na era do Vale do Silício, das fintechs e das startups de tecnologia ágil. Certamente a indústria bancária não está excluída dessa narrativa.
As fintechs estão cada vez mais populares, com seus serviços sob demanda, especialmente para aqueles tradicionalmente subatendidos pelos bancos tradicionais. O número crescente e a variedade dos bancos desafiadores, muitas vezes com capacidades bancárias 24 horas por dia, oferecem um contraponto atraente aos bancos físicos. A pressão está aumentando sobre eles. No entanto, a Inovação não é tão fácil quanto apertar um simples botão ou criar um app.
As fintechs têm a vantagem de imaginar e projetar suas ofertas digitais desde o início. Ao longo de muitos, muitos anos de existência, os bancos tendem a investir em seus processos existentes e veem os esforços de digitalização mais como um complemento aos seus canais existentes.
Considerando os milhões e bilhões frequentemente investidos nesses processos e os funcionários contratados para preencher esses cargos que podem ter que ser dispensados, é difícil convencer os bancos a abandonar seus procedimentos existentes.
Com tanto dinheiro e ativos em jogo, é natural que os bancos tradicionais sejam avessos ao risco.
Também há a questão da segurança, pois uma estratégia digital mal planejada poderia colocar um banco, de outra forma seguro, em risco. “Falhar rápido ou falhar com frequência” pode ser visto como arriscado demais para os bancos tradicionais enfrentarem.
À medida que as lacunas tecnológicas se ampliam e as abordagens ágeis e centradas na inovação das empresas de tecnologia se tornam cada vez mais estranhas às culturas bancárias rígidas existentes, os bancos naturalmente se tornam mais reticentes em adotar a mentalidade e as mudanças necessárias para acompanhar as tendências atuais.
Essas dificuldades são compreensíveis e, felizmente, não são obstáculos impossíveis de superar.
A inovação bancária já vem sendo implementada pelo Deutsche Bank
O ímpeto para a reformulação do Deutsche Bank decorreu em parte de pesadas taxas legais devido a escândalos financeiros em 2015, o que os forçou a fechar negócios em 10 países e cortar 15.000 empregos.
No entanto, o banco decidiu simplificar seus negócios no ano seguinte por meio da tecnologia. Os 45 sistemas operacionais do Deutsche Bank foram reduzidos para quatro em 2020, e houve conversas sobre quadruplicar o uso da tecnologia em nuvem do banco para abranger 80% de seus sistemas. O Deutsche Bank estima que gastou 750 milhões de Euros em digitalização entre 2015 e 2020.
Passado alguns anos, em maio de 2024 o Deutsche Bank anunciou sua participação no Project Guardian da Autoridade Monetária de Cingapura (MAS). Esta iniciativa foca em explorar o potencial da tokenização de ativos nos mercados financeiros regulamentados.
O Project Guardian, um esforço de vários anos, envolve a colaboração entre formuladores de políticas globais, como a FCA do Reino Unido, a FINMA da Suíça e a FSA do Japão, juntamente com representantes da indústria de serviços financeiros.
No fluxo de trabalho de gestão de ativos e patrimônio, o Deutsche Bank testará uma plataforma blockchain de arquitetura aberta e interoperável para o atendimento de fundos tokenizados e digitais.
O banco tem como objetivo propor padrões de protocolo e identificar as melhores práticas para avançar no desenvolvimento da indústria.
Outro esforço de digitalização, agora na Ásia
O DBS Bank de Cingapura também fez esforços de digitalização, que posteriormente lhe renderam o prêmio de Melhor Banco Digital do Mundo da Euromoney em 2018 — e 72% de seu lucro total em 2017 veio de clientes digitais. Na verdade, o banco aproveitou seu nome e base de capital para ajudar a garantir seus lucros, apesar de investir cerca de US$ 740 milhõesanualmente em tecnologia.
O Segredo da modernização?
Os bancos tradicionais não precisam inovar exatamente como as fintechs fazem, mas incorporar seus princípios. Tudo começa com colocar seus clientes no centro do seu universo e criar uma abordagem integrada. Os bancos devem ter dois objetivos:
- Capitalizar proativamente na digitalização e;
- Proteger vigorosamente os clientes de alto valor por meio de produtos e serviços inovadores.
O importante aqui é garantir que os canais sejam fortemente integrados. No auge da eventual atualização tecnológica premiada do DBS Bank, por exemplo, houve um incidente em 2009 com Paul Cobban, que agora é Diretor de Operações.
Uma viagem de táxi revelou a Paul que os clientes frequentemente diziam que o nome da marca DBS significava a sigla ‘Damn Bloody Slow‘ (terrivelmente muito lento). Posteriormente, o CEO Piyush Gupta instituiu uma nova estratégia corporativa que incluía um workshop de cinco dias focado na eliminação de desperdícios — não os desperdícios habituais na mente das corporações, mas os desperdícios no tempo dos clientes. Usando a hora do cliente como métrica, eles aparentemente removeram 250 milhões de horas de desperdício dos clientes por ano.
Isso demonstra claramente o poder e a importância de reformular não apenas sistemas desatualizados, mas também a maneira de pensar.
Outro exemplo importante é a chinesa Ping An, uma gigante insurtech que levou esse conceito ao extremo, dando valiosas lições e estudos de casos para as inovações que as empresas de seguros de todo mundo poderem aprender com a Ping An.
Fundada em 1988 em Shenzhen como a primeira empresa de seguros por ações da China, a Ping An Insurance (Group) Company of China, Ltd. (“Ping An” ou o “Grupo”) se esforça para se tornar uma fornecedora mundial líder em serviços integrados de finanças e saúde. Com quase 229 milhões de clientes de varejo em 2024, a Ping An é uma das maiores empresas de serviços financeiros do mundo.
Sob a estratégia tecnológica “finanças integradas + saúde“, a Ping An oferece serviços profissionais de “consultoria financeira, médico de família e concierge de cuidados para idosos”. A Ping An avança na transformação digital inteligente e emprega tecnologias para melhorar a qualidade e a eficiência de seus negócios financeiros e aprimorar a gestão de riscos.
O Grupo está listado nas bolsas de valores de Hong Kong e Xangai. A Ping An foi classificada em 16º lugar na lista Forbes Global 2000 em 2023 e em 25º lugar na lista Fortune Global 500 em 2022.
Não pense na inovação apenas como novos produtos
O verdadeiro campo de batalha entre os incumbentes e os disruptores agora é se os bancos podem inovar mais rápido do que as startups podem escalar. Os bancos têm a vantagem nessa etapa, entre seu maior acesso a recursos, conexões extensas e melhor capacidade de navegar por águas regulatórias tempestuosas desconhecidas para uma fintech média.
Então, por que as fintechs ainda conseguem avançar com pensamento inovador mais rapidamente do que os bancos?
Os grandes bancos podem aprender com empresas como Ping An, WeChat, Amazon e Airbnb, que tiveram sucesso em áreas que as empresas tradicionais costumavam dominar, considerando todo o espectro da experiência do cliente. Em vez de apenas fornecer produtos, eles pensavam como uma plataforma.
A rede de hotéis Marriott é um exemplo. Eles não são um banco per se, mas sua situação pode ressoar com muitos bancos (e empresas) tradicionais em sua busca por inovação.
Tradicionalmente, a marca Marriott tem um nome respeitado e estabelecido, mas vislumbrou seu mercado ameaçado quando o Airbnb iniciou suas operações, expandindo sua plataforma para englobar ofertas de viagem mais holísticas ao longo do tempo.
A resposta da rede Marriott foi lançar, no final de abril de 2019, seu próprio braço de compartilhamento de casas, oferecendo uma grande variedade de residências de lazer, desde castelos até casas de praia.
A Marriott anunciou o aluguel de 2000 casas em 100 cidades nos EUA, Europa e América Latina. Sua expansão para o espaço de aluguel de casas coincide com a expansão do Airbnb na indústria hoteleira, transporte e uma nova categoria de aluguéis de curto prazo que oferecem serviços semelhantes aos de hotéis, incluindo arrumação e concierge.
“O lançamento do Homes & Villas by Marriott International reflete nosso compromisso contínuo com a inovação à medida que as necessidades de viagem dos consumidores evoluem,” disse Stephanie Linnartz, diretora comercial global da Marriott, em um comunicado em 2019. “O que começou como um projeto piloto há um ano agora é uma oferta global.”
O anúncio da Marriott sobre avançar no território do Airbnb aconteceu enquanto o Airbnb se preparava para uma oferta pública inicial. O CEO do Airbnb, Brian Chesky, respondeu que “Quando se trata do modelo de negócios de aluguel de casas, não estou preocupado com a Marriott.”
“Não acho que alguém vai se tornar tão grande a ponto de ser uma grande ameaça,” ele disse ao “Squawk Box” poucos dias após numa entrevista à americana CNBC.
No entanto, o Marriott simplesmente copiar o Airbnb em 2019, sete anos após o Airbnb obter 10 milhões de reservas, é realmente inovação? Provavelmente levaram meses ou anos para discutir essa nova oferta em reuniões do conselho, e ainda mais tempo e dinheiro para encontrar engenheiros e parceiros — tudo para produzir uma visão imicial da qual o Airbnb já está se afastando.
O projeto, infelizmente, perde um ponto crucial: o Airbnb não é apenas uma plataforma de reservas, o segredo do sucesso do Airbnb reside na experiência do cliente. O marketplace do Airbnb cultiva uma comunidade de anfitriões e viajantes. Quando um viajante se hospeda em um Airbnb, eles têm interações individuais com anfitriões que genuinamente se preocupam com sua experiência no local, pois isso impactará sua classificação de superhost.
O ideal é que voce descubra toda a jornada financeira do seu cliente e repense como eles interagem com sua marca e seus apps ao longo dessa jornada. Uma simples mudança pode fazer uma grande diferença. Com APPs e parcerias disponíveis, os clientes podem nem precisar interagir diretamente com você para que você facilite a vida deles.
Inovação fintech também no Brasil
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Fontes:
Yahoo Finance sobre o anúncio da Marriott:
https://finance.yahoo.com/news/airbnb-apos-newest-neighbor-
home-002736759.html
Fintech News sobre a necessidade da inovação:
https://fintechnews.sg/30706/innovation/kpmg-bank-challenges-
innovation-how-to-digitalization/
Evolução da tecnologia do Deutsche Bank:
https://fintechnews.sg/95787/blockchain/deutsche-bank-joins-
mas-project-guardian-to-explore-asset-tokenisation/
Sobre a Ping An:
https://group.pingan.com/
Edição e tradução dos artigos:
Everton Ferretti e ChatGPT