Modalidade de investimento de impacto precisa vencer barreiras para crescer e cumprir sua maior vocação. Imagine um mundo em que seja possível fazer investimentos com sólidos retornos e, ao mesmo tempo, assegurar que esse capital gere benefícios para a sociedade. Essa é a promessa de uma abordagem que ganha cada vez mais força em todo o mundo: o investimento de impacto.
Inserida no contexto das ações de responsabilidade social, essa nova modalidade é constituída de aplicações feitas por empresas, organizações não governamentais e fundos de investimento com a intenção de gerar impacto social e ambiental mensurável e com ganhos financeiros.
Embora seja conceitualmente atraente e já conte com investidores pioneiros, o investimento de impacto ainda precisa crescer e se difundir.
Os cinco atributos para disseminar uma inovação propostos no livro The diffusion of innovations, de Everett Rogers, servem como uma luva para o investimento de impacto:
- A vantagem relativa sobre as alternativas.
- A compatibilidade com os valores, as experiências e as necessidades das pessoas.
- A simplicidade.
- A possibilidade de experimentação.
- A visibilidade.
VANTAGEM RELATIVA
À primeira vista, somar benefícios sociais e ambientais mensuráveis a retornos financeiros já é suficiente para fazer o investimento de impacto ser muito superior aos demais investimentos e à filantropia. No entanto, a vantagem relativa a ser percebida no investimento de impacto depende de mais três aspectos:
1. Um histórico substancial com indicadores de sucesso financeiro identificáveis deve ser gerado, permitindo que os investidores comprovem a probabilidade de resultados sólidos com nível aceitável de riscos e custos.
2. O impacto positivo sobre os problemas sociais tem de ficar demonstrado. Embora resultados mensuráveis sejam uma característica do investimento de impacto, esse continua sendo um dos aspectos mais desafiadores da nova modalidade.
3. Há ainda um marco regulatório relativamente nebuloso. Como ocorreu com as primeiras ações de responsabilidade socioambiental, não está inteiramente claro se o investimento de impacto atende aos requisitos de responsabilidade fiduciária dos investidores institucionais, o que pode limitar o mercado significativamente.
O que é preciso fazer para resolver isso:
- Monitorar o sucesso financeiro em condições de risco e custos aceitáveis.
- Gerar padrões claros de mensuração e sistemas de seguro.
- Criar uma regulamentação clara com regras de compliance.
COMPATIBILIDADE
Como mencionamos, os investimentos de impacto já estão atraindo o interesse de pioneiros como grandes instituições financeiras e gestores de fundos. Mas não é óbvia a conclusão de que essa nova abordagem é compatível com a moderna teoria de portfólio de investimentos.
Em primeiro lugar, os investimentos de impacto introduzem um vetor de “variáveis sociais” que vão além de retorno e risco, e isso torna a seleção e o acompanhamento de potenciais investimentos mais complicados.
Segundo, uma vez que o investimento de impacto exclui outros gastos com ações de responsabilidade social, pode-se argumentar que se perdem as vantagens associadas à diversificação.
Um terceiro ponto é haver desafios reais no que diz respeito à liquidez, especialmente em mercados privados, que podem não ser aprovados por investidores menos experientes.
Esses problemas são objeto de conversas entre investidores e analistas de mercado. Quando estes têm formação mais tradicional, raramente conhecem o bastante sobre investimentos de impacto e, assim, acabam orientando os clientes de volta a opções familiares, com medo de que percam retorno, diversificação e/ou liquidez.
Há também um desafio no que diz respeito à compatibilidade com as práticas e sistemas já existentes. Como muitos produtos de investimento de impacto são novos e oferecidos por meio de intermediários pouco usuais, fica difícil para os investidores e analistas encontrar e ter acesso a essas novas possibilidades.
O que é preciso fazer:
- Realizar novas pesquisas sobre a conformidade com a teoria moderna de portfólio.
- Divulgar as pesquisas a analistas e outros.
- Criar recursos de informação e sistemas de negociação e compensação públicos.
SIMPLICIDADE
O mundo dos investimentos já é bastante complexo, com teorias, jargões, instituições e sistemas próprios. Os investimentos de impacto acrescentam outro elemento: benefícios sociais e ambientais, que podem ser intuitiva e emocionalmente atraentes, mas não ajudam a simplificar as coisas.
Além disso, ainda há dificuldade de encontrar informações sobre esse tipo de investimentos, um enorme desafio para analistas e investidores que querem aderir a eles.
Essas questões podem ser superadas por provas claras de sucesso e melhor integração com as teorias e os sistemas financeiros. No entanto, no curto prazo, é provável que os defensores dos investimentos de impacto continuem a se concentrar em seu ponto mais forte, ou seja, a crença de que o impacto é algo bom.
O que é preciso fazer:
- Simplificar as coisas por meio de evidências.
- Apelar ao desejo humano por impacto.
EXPERIMENTAÇÃO
Os investimentos de impacto são algo relativamente novo, com muitos desafios no horizonte e com falta de produtos. A maior parte das iniciativas desse tipo tem sido realizada por grandes investidores institucionais, como fundações – e mesmo eles têm deparado com poucas opções. Desse modo, é difícil “experimentar” o investimento de impacto.
O que é preciso fazer:
- Acelerar o desenvolvimento de novos produtos para grandes e pequenos investidores, incluindo fundos de fundos e fundos mútuos.
- Ter cautela com investimentos diretos.
- Criar uma forma de possibilitar a experimentação para investidores que não tenha custos.
VISIBILIDADE
Até agora, poucos investidores ou mesmo defensores da nova modalidade de investimentos ganharam destaque. Trata-se de um notável descuido e de uma oportunidade significativa. Quem aderir aos investimentos de impacto pode não apenas fazer o bem, como ser visto fazendo a coisa certa. É claro que esse aspecto não é suficiente.
Outros desafios – como a comprovação de retorno e impacto, mais produtos e melhores recursos – precisam ser enfrentados. No entanto, se o investimento de impacto continuar a crescer e provar seu valor, então a visibilidade dos investidores pode ser uma estratégia apropriada para gerar uma disseminação ainda maior.
O que é preciso fazer:
- Divulgar investimentos e investidores bem-sucedidos, para que sejam vistos como “do bem”.
POTENCIAL ENORME
O investimento de impacto possui enorme potencial. Com investidores mais poderosos e disposição para enfrentar os desafios aqui expostos, talvez seja uma das inovações mais disruptivas de nosso tempo.
Saiba mais sobre investimentos de impacto
O investimento de impacto pode ter configurações diversas. Alguns investidores talvez priorizem o retorno sobre o capital, mas sem deixar de gerar benefícios para a sociedade. Outros colocarão impacto social e ambiental em primeiro lugar, aceitando um retorno financeiro abaixo do mercado, que essencialmente reembolse o capital aplicado. Os formatos dos investimentos de impacto também podem ser variados.
Um exemplo é um fundo de investimento que financie pequenos negócios em uma comunidade e também remunere apropriadamente os investidores. Os empreendedores sociais, que atacam problemas sociais e ambientais muitas vezes com o uso de novas tecnologias e geram receita, também constituem um formato possível.
Um terceiro formato são os títulos de impacto social emitidos por governos para financiar programas sociais inovadores. Os investidores só são remunerados se o programa social alcançar seus objetivos, o que exige que estes sejam mensuráveis.
NO BRASIL
A pesquisa Panorama do setor de investimento de impacto na América Latina, realizada pela Aspen Network of Development Entrepreneurs em parceria com a Latin American Private Equity & Venture Capital Association e com a LGT Impact Ventures, mostra que o número de investidores de impacto no País passou de 22 em 2014 para 29 em 2016.
Eis outros dados:
- Os principais setores que recebem investimentos de impacto no Brasil são saúde, educação e inclusão financeira.
- Entre os instrumentos financeiros usados, o preferido é equity (67%), seguido de dívida (52%).
- Cerca de 50% dos investidores esperam um retorno anual líquido superior a 16%.
Fonte: Revista HSM Management, por Roger Martin. Ele é diretor do Martin Prosperity Institute, professor da Rotman School of Management, da University of Toronto, do Canadá, e autor do livro Getting beyond better: how social entrepreneurship works. Rod Lohin é diretor-executivo do instituto de cidadania corporativa da Rotman School.