A Intel fabrica os microprocessadores encontrados em 80 por cento dos computadores pessoais do mundo. Atualmente, é uma das marcas globais mais valiosas, com faturamento superior a US$ 37 bilhões. No início, porém, os microprocessadores eram conhecidos simplesmente por seus números de engenharia, tais como “80386” ou “80486”.
Visto que números não podem ser patenteados, os concorrentes lançavam seus próprios chips “486” e a Intel não tinha como se diferenciar. Os consumidores também não podiam ver os produtos da empresa, embutidos em seus computadores. Por conseguinte, a empresa tinha dificuldade em convencê-los a pagar mais por seus produtos de alto desempenho. Como resultado, a empresa fez história ao criar uma emblemática campanha de marketing baseada em branding de ingredientes.
Escolheu um nome para poder registrar seu recente lançamento de microprocessador, o Pentium, e lançou a campanha Intel Inside para criar conscientização de marca de toda sua família de microprocessadores. Essa campanha ajudou a levar o nome da marca Intel para fora do PC e penetrar
na mente dos consumidores. Para executar a nova estratégia de marca, era essencial que os fabricantes de computadores que usavam os microprocessadores da marca apoiassem o programa.
A Intel lhes ofereceu descontos expressivos para incluir o logo de sua marca em suas propagandas de PC ou para colocar a etiqueta Intel Inside do lado de fora de seus PCs e notebooks. A empresa criou várias campanhas de marketing eficazes e identificáveis no final da década de 1990 para se tornar um nome de marca ingrediente reconhecido e preferencial.
A série Bunny People mostrou técnicos da Intel usando vestimentas esterilizadas de cores berrantes e dançando ao som de música no estilo discoteca dentro de uma fábrica de processadores. A empresa também usou o famoso Blue Man Group em seus comerciais para o Pentium III e o Pentium IV. Em 2003, a marca lançou o Centrino, uma plataforma composta por um novo microprocessador, uma bateria de duração estendida e tecnologia sem fio.
A empresa lançou uma ação de mídia multimilionária em torno da nova plataforma chamada Unwired, que instigava o mundo conectado por fios a se livrar dos fios, das complicações, das sobrecargas, dos compromissos e do estresse. A campanha Unwired ajudou a gerar US$ 2 bilhões em receitas em seus primeiros nove meses de veiculação.
Quando a indústria de PCs desacelerou em meados da década de 2000, a Intel buscou oportunidades em novas áreas de crescimento, tais como o entretenimento em casa e dispositivos de mobilidade. A empresa lançou duas novas plataformas: a Viiv (em inglês, rima com five [cinco]), dirigida a entusiastas do entretenimento doméstico, e a Centrino Duo, centrada na mobilidade.
Além disso, a empresa investiu US$ 2 bilhões em uma campanha global de marketing para reposicionar a marca de uma empresa inteligente de microprocessadores para uma “empresa vigorosa e de múltiplas possibilidades” que também oferecia soluções para os consumidores. Como parte da campanha, o novo slogan “Leap Ahead” (“Um salto à frente”) substituiu a conhecida campanha Intel Inside, que se tornara sinônimo da marca Intel, e um novo logotipo foi criado.
Em 2007, a empresa criou o Classmate PC — um computador de pequeno porte, fácil de usar, durável e acessível, com processador Intel, que se destinava a crianças em regiões remotas do mundo. Era parte de uma iniciativa chamada Intel Learning Series, que visava disseminar a educação em tecnologia por todo o mundo.
No ano seguinte, a empresa lançou o processador Atom, o menor da empresa até então, projetado para dispositivos de Internet móvel, netbooks e nettops, como o Classmate PC. Também nesse ano, a empresa introduziu seu microprocessador mais avançado, o Intel Core i7, com foco nas necessidades de vídeo, jogos 3-D e informática avançada. Ambos os processadores tiveram sucesso instantâneo.
O Atom, menor que um grão de arroz, caiu como uma luva no crescente mercado de netbooks — computadores móveis e muito leves. A Intel vendeu mais de 20 milhões de processadores Atom para netbooks em seu primeiro ano e 28 milhões no segundo. Alguns analistas preveem que, quando o processador Atom entrar no mercado de smartphones e celulares, a Intel poderá vender centenas de milhões de unidades em um curto espaço de tempo.
A campanha publicitária mais recente da marca teve como objetivo melhorar a conscientização de marca da empresa e foi intitulada “Sponsors of Tomorrow” (“Patrocinadores do amanhã”). Os comerciais destacavam o papel da Intel em mudar o futuro da tecnologia e adotavam um tom bem-humorado.
Em um deles, um homem de meia-idade usando o crachá da empresa caminha pomposo pelo refeitório enquanto colegas de trabalho gritam, tocam nele e imploram por um autógrafo. Na tela se lê: “Ajay Bhatt, coinventor do USB”, enquanto o funcionário (interpretado por um ator) pisca para uma fã. A propaganda termina com a frase: “Nossos super-heróis não são como os seus”.
Enquanto os super-heróis da Intel continuam a criar poderosos microprocessadores para aparelhos cada vez menores e mais móveis, o valor de marca da empresa continua a crescer, assim como sua influência sobre o futuro da tecnologia.
Fontes: Livro Administração de Marketing, por Philip Kotler; EDWARDS, Cliff. Intel Everywhere? BusinessWeek, p. 56-62, 8 mar. 2004; CAMP, Scott van. ReadMe.1st. Brandweek, p. 17, 23 fev. 2004; How to Become a Superbrand. Marketing, p. 15, 8 jan. 2004; SLAVENS, Roger. Pam Pollace, VP-Director, Corporate Marketing Group, Intel Corp. BtoB, p. 19, 8 dez. 2003; HEIN, Kenneth. Study: New Brand Names Not Making Their Mark. Brandweek, p. 12, 8 dez. 2003; CLANCY, Heather. Intel Thinking Outside the Box. Computer Reseller News, p. 14, 24 nov. 2003; WEBB, Cynthia L. A Chip Off the Old Recovery? Washingtonpost.com, 15 out. 2003; Intel Launches Second Phase of Centrino Ads. Technology Advertising & Branding Report, 6 out. 2003; KIRKPATRICK, David. At Intel, Speed Isn’t Everything. Fortune, p. 34, 9 fev. 2004; CLARK, Don. Intel to Overhaul Marketing in Bid to Go Beyond PCs. Wall Street Journal, 30 dez. 2005; CLIFFORD, Stephanie. Tech Company’s Campaign to Burnish Its Brand. The New York Times, p. B7, 6 maio 2009; BAJARIN, Tim. Intel Makes Moves in Mobility. PC Magazine, 5 out. 2009.
Intel amplia seu portifolio de produtos para continuar competitiva
Apesar de não ser tão falada quanto Microsoft, Apple e Samsung, a marca Intel é uma daquelas gigantes de tecnologia que certamente já passaram por sua vida. Em algum momento você usou – e ainda deve estar usando algum produto ou chip ou processador da Intel.
Em 2018 a Intel completou 50 anos e a empresa encara agora a necessidade de nos próximos anos deixar de ser centrada em computadores de mesa “desktops” e superar o fato de não ter se dado tão bem no mercado de celulares – desafio similar ao da Microsoft. Para isso, ela tenta expandir seu foco para além dos PCs, como internet das coisas, drones e carros autônomos e o mundo da big data.
O futuro está nas coisas?
Equipar as CPUs de computadores e servidores ainda permanece como principal negócio da Intel – metade da receita de US$ 16,1 bilhões ainda vem da venda de chips para computadores. Porém, a companhia passou a olhar para outros segmentos.
Um deles é o de internet das coisas – segmento que permite conectividade a diferentes objetos, de torradeiras a turbinas de avião. Segundo a Juniper Research, 50 bilhões de aparelhos estarão conectados à rede em 2022, o que vai exigir sensores, chips e sistemas de comunicação para todos eles. A consultoria MarketsandMarkets estima que será um mercado de US$ 561 bilhões.
Para isso, ela saiu às compras. Entre elas está uma empresa alemã especializada em chips para objetos conectados, adquirida em 2014. A mais recente aquisição foi no mês passado da eASIC, especialista em aplicações para circuito integrado que será importante neste plano de equipar objetos inteligentes.
Assim, nos últimos anos, a Intel vem apresentando diversos experimentos no segmento, incluindo muitos em vestíveis: relógio inteligente, fones de ouvido com recursos biométricos, serviço de conteúdo de TV pela internet e óculos inteligentes.
Nenhum deles ainda emplacou como as famílias de chips para PCs já fizeram no passado, mas a companhia enxerga possibilidades. Hoje, o setor de IoT representa US$ 840 milhões da receita atual da Intel, e vem apresentando crescimentos seguidos a cada trimestre.
Automóveis autônomos e drones
Em 2016, a Intel passou a trabalhar com a BMW, e no ano passado, com a Waymo, unidade da Alphabet (controladora do Google) no desenvolvimento de tecnologias para veículos autônomos.
Seu maior pulo nesse nicho foi ter comprado por US$ 15,3 bilhões a MobileEye, empresa israelense que fabrica sensores que ajudam a detectar obstáculos nas ruas. Uma demonstração dessa tecnologia aconteceu no palco da CES de 2018, além de um protótipo de “carro voador” não tripulado chamado Volocopter.
Falando em voo, a Intel também está desde 2015 de olho nos drones, ao pesquisar e testar um ecossistema forte para eles, com sensores, comunicações e integração na nuvem. Como prova de fé, bateu o recorde mundial com 1.218 drones voando simultaneamente durante a cerimônia de abertura Jogos Olímpicos de Inverno, na Coreia do Sul, no começo deste ano.
Pelo retrospecto recente, a Intel acredita que “coisas”, carros e drones espertos e automáticos serão “o novo computador” – isto é, a grande evolução tecnológica para a próxima década. Por isso a empresa já se assume menos uma fabricante de chips e mais de dados.
Dados na nuvem: a prometida mina de ouro
Seguindo o movimento de outras grandes, como Amazon, Microsoft, IBM e Google, a Intel também aposta em dados e inteligência artificial.
Um dos produtos recentes da empresa é uma tecnologia chamada FPGA (sigla para “matriz de portas programáveis em campo”) para alimentar plataformas de inteligência artificial. “A transformação da Intel em uma empresa centrada em dados está bem encaminhada e nossa equipe está produzindo excelentes produtos”, disse Bob Swan, executivo-chefe interino da empresa.
A inteligência artificial está transformando indústrias e mudando a forma como os dados são gerenciados, interpretados e, o mais importante, usados para resolver problemas reais para pessoas e empresas mais rapidamente do que nunca Reynette Au, vice-presidente de marketing do Grupo de Soluções Programáveis da Intel
Fonte: Portal UOL – Tecnologia