Para um exemplo de liderança fluída na prática, peguemos o caso de Joan, gerente-geral de uma grande divisão de uma multinacional de alimentos e bebidas. Quando instalada no cargo, a divisão estava em meio a uma profunda crise. Havia seis anos não atingia as metas de lucro (no ano mais recente, ficara U$ 50 milhões aquém). O moral da diretoria era baixíssimo; desconfiança e ressentimento corriam soltos. A ordem dada pela cúpula a Joan foi clara: tirar a divisão do atoleiro.Joan conseguiu – e com uma desenvoltura muito rara na transição de um estilo de liderança para outro. Desde o início, percebeu que tinha pouco tempo para demonstrar uma liderança eficaz, se entrosar e ganhar confiança. Sabia, também que precisava ser urgentemente informada sobre o que não estava funcionando. Logo, sua primeira tarefa foi ouvir gente crucial ali dentro.

Na primeira semana no posto, Joan sai para almoçar ou jantar com cada membro da equipe de gestão. Queria a opinião de todos sobre a situação presente. Mas seu foco não era tanto descobrir como cada executivo diagnosticava o problema, mas sim conhecer cada um deles como pessoa. Aqui, Joan adotou o estilo agregador: explorou suas vidas, seus sonhos, suas aspirações.

Também entrou no papel de conselheira, buscando maneiras de ajudar cada membro da equipe a conseguir o que queria na carreira. Um gerente que vinha ouvindo que não sabia trabalhar em equipe, por exemplo, confidenciou a Joan seus temores. Embora achasse que fosse um bom membro da equipe, vivia atormentado por queixas persistentes. Ciente de que tratava de um executivo talentoso e um bem valioso para a empresa, Joan fez um pacto com ele: a porta fechadas, o avisaria sempre que seus atos minassem sua intenção de ser visto como alguém que trabalhava bem em equipe.

Depois dessas conversar individuais, foi à vez de um encontro de três dias fora da empresa, à meta, aqui era entrosar a equipe para que todos nela se apropriassem de qualquer solução que surgisse para os problemas. A posição inicial de Joan nessa reunião foi a de um líder democrático. Joan incentivou todos a expressar livremente suas frustrações e queixas.

No dia seguinte, fez o grupo se concentrar na busca de soluções: cada pessoa deu três idéias específicas sobre o que precisava ser feito. À medida que Joan agrupava as sugestões, foi surgindo um consenso natural sobre prioridades para a empresa, como o corte de custos. Com o grupo traçado planos específicos de ação, Joan consegui o compromisso e o apoio que buscava.

Munida dessa visão, Joan adotou o estilo visionário, atribuindo a responsabilidade para cada providência seguinte a um determinado executivo e cobrando dessa pessoa resultados. A divisão vinha, por exemplo, derrubando o preço de produtos sem aumentar o volume. Uma solução óbvia seria aumentar os prelos, mas o diretor de vendas anterior enrolara, e deixara o problema se agravar. Agora, o novo diretor de vendas tinha a responsabilidade de ajustar os preços para resolver o problema.

Nos meses seguintes, o principal estilo de Joan seguiu sendo o visionário. Reiteradamente, articulava a nova visão do grupo para lembrar a cada membro que seu papel era crucial para a consecução das metas. E, sobretudo nas primeiras semanas de implementação do plano, Joan sentiu que o caráter urgente da crise na empresa justificava a adoção ocasional do estilo despótico – quando alguém não cumpria seus deveres. Em suas próprias palavras; “Tive de ser dura nesse acompanhamento e me certificar de que as coisas estavam saindo do papel. Era preciso disciplina e foco”.

Os resultados? Todo aspecto do clima melhorou. As pessoas estavam inovando. Estavam falando sobre a visão da divisão, alardeando seu compromisso com metas novas, claras. A prova suprema do estilo fluido de liderança de Joan está escrita em tinta azul: depois de apenas sete meses, sua divisão superou a meta de lucro anual de US$ 5 milhões.

Amplie seu repertório

Naturalmente, poucos líderes têm esses seis estilos em seu repertório, e um número ainda menor sabe quando e como usá-los. Aliás, ao apresentar os resultados de nosso estudo em diversas organizações, as reações mais comuns foram um “Mas, só tenho dois desses!” e “Não posso usar todos esses estilos, não seria natural”.

Essa reação é compreensível e, em certos casos, o antídoto é relativamente simples. O líder pode montar uma equipe com gente que empregue estilos que ele não domina. Foi o caso de uma diretoria de manufatura que dirigia muito bem uma rede mundial de fábricas usando basicamente o estilo agregador. Estava sempre viajando, se encontrando com gerentes de fábrica, cuidando de seus temas mais prementes, mostrando a todos o quanto valoriza cada um pessoalmente. Deixava a estratégia da divisão – eficiência extrema – a cargo de um executivo de confiança, um sujeito que entendia a fundo a tecnologia. Delegava padrões de desempenho a um colega que dominava a abordagem visionária. E também tinha um líder agressivo na equipe que sempre a acompanhava em visitas às fábricas.

Outra abordagem, a meu ver proferível, seria o líder ampliar o próprio repertório de estilos. Para tanto, o líder primeiro precisa saber que competências da inteligência emocional sustentam os estilos de liderança que não possui. Isso feito pode trabalhar assiduamente para aumentar seu grau de cada um.

Um líder agregador, por exemplo, se destaca em três competências da inteligência emocional: empatia, estabelecimento de relacionamento e comunicação, a empatia – a capacidade de perceber como o outro está se sentindo no momento – permite que o líder agregador reaja a cada pessoa de um jeito altamente congruente com as emoções do indivíduo, o que garante o entrosamento. O líder agregador também exibe uma facilidade natural para forjar novas relações, conhecer alguém como pessoa e cultivar vínculos. Por último, um grande líder agregador domina a arte da comunicação interpessoal – sabe, sobretudo, dizer a coisa certa ou fazer o gesto simbólico certo no momento certo.

Logo, quem for basicamente um líder agressivo e quiser usar o estilo agregador com mais freqüência vai ter de melhorar seu grau de empatia e, quem sabe, sua capacidade de estabelecer relacionamentos e de se comunicar de modo eficaz, em outro exemplo, um líder visionário que queira adicionar o estilo democrático a seu repertório talvez precise trabalhar a própria capacidade de colaboração e comunicação. Embora o conselho para acrescentar recursos possa parecer simplista – “Mude seu jeito de ser!” – aumentar a inteligência emocional é perfeitamente possível com a prática.

Mais ciência, menos arte

Assim como criar filhos, liderar nunca será uma ciência exata. Mas tampouco deveria ser um completo mistério para os envolvidos. Nos últimos anos, uma série de estudos veio ajudar pais a entender os componentes genéticos, psicológicos e comportamentais que afetam seu desempenho no “trabalho”. Com nosso novo estudo, o líder também pode ter uma idéia mais clara daquilo que é preciso para liderar com eficácia. E, igualmente importante, pode ver como fazer isso acontecer.

O ambiente empresarial está sempre mudando. Em resposta, o líder também deve mudar. Hora a hora, dia a dia, semana a semana, o executivo deve aplicar seus estilos de liderança como um profissional – usando o estilo certo na hora certa e na dose certa. A recompensa está nos resultados.

Introdução à inteligência emocional

A inteligência emocional – a capacidade de cada um de administrar bem a si mesmo e seus relacionamentos – abrange quatro capacidades fundamentais: autoconsciência, autogestão, consciência social e administração de relacionamentos. Cada capacidade, por sua vez, reúne uma série específica de competência. Veja abaixo uma relação das capacidades e de traços correspondentes.

AUTOCONSCIÊNCIA

  • Autoconsciência emocional
    Capacidade de diagnosticar e entender suas emoções, bem como de reconhecer o impacto delas no desempenho no trabalho e em relacionamentos, entre outras coisas.
  • Auto-avaliarão precisa
    Avaliação realista de seus pontos fortes e limitações.
  • Autoconfiança
    Um senso forte e positivo de seu próprio valor.

AUTOGESTÃO

  • Autocontrole
    Capacidade de manter emoções e impulsos destrutivos sob controle.
  • Transparência
    Agir reiteradamente com honestidade e integridade
  • Responsabilidade
    Capacidade de gerenciar a si mesmo e suas responsabilidades.
  • Adaptabilidade
    Capacidade de se ajustar a novas situações e superar obstáculos.
  • Superação
    Motivação para satisfazer um padrão interno de excelência.
  • Iniciativa
    Prontidão para aproveitar oportunidades

CONSCIÊNCIA SOCIAL

  • Empatia
    Capacidade de perceber emoções do outro, entender seu ponto de vista e se interessar genuinamente por seus assuntos.
  • Consciência organizacional
    Capacidade de detectar correntes da vida organizacional, montar redes de decisão e jogar o jogo político.
  • Serviço
    Capacidade de reconhecer e satisfazer necessidades do cliente

ADMINISTRAÇÃO DE RELACIONAMENTOS

  • Liderança Inspiradora
    Capacidade de assumir rédeas e inspirar com uma visão contundente.
  • Influência
    Capacidade de lançar mão de uma série de táticas de persuasão.
  • Desenvolvimento da demais
    Propensão a cultivar habilidades do outro por meio de feedback e orientação.
  • Comunicação
    Capacidade de ouvir e transmitir mensagens claras, convincentes e sintonizadas.
  • Catalisação de mudanças
    Capacidade de lançar novas idéias e conduzir as pessoas a uma nova direção
  • Gestão de conflitos
    Capacidade de aplacar divergências e orquestrar resoluções.
  • Criação de vínculos
    Capacidade de cultivar e manter uma rede de relacionamentos.

Revista HBR 2004 – Harvard Business Review, por Daniel Goleman, que também é autor de livros como Inteligência Emocional, Inteligência Social e Inteligência Ecológica e coautor de O Poder da Inteligência Emocional