Quando pessoas ao redor do mundo são convidadas a refletir sobre líderes inspiradores e líderes frustrantes, três fatores principais se destacam na diferença entre eles. Líderes inspiradores são visionários: enxergam o panorama geral e oferecem uma visão otimista e significativa do futuro. Isso atende à necessidade humana de significado e propósito. Líderes inspiradores são exemplos do comportamento desejado: são protetores calmos e corajosos, genuinamente apaixonados, extremamente competentes, mas também humildes. Isso atende à necessidade humana de proteção e paixão. Por fim, líderes inspiradores são ótimos mentores: empoderam, incentivam e demonstram empatia, mas também desafiam os outros a serem a melhor versão de si mesmos. Isso atende à necessidade humana de apoio e reconhecimento.
Cada pessoa pode desenvolver a capacidade de inspirar nos três aspectos da liderança. Para adotar uma mentalidade visionária, é útil utilizar estratégias que ampliam a perspectiva, como refletir sobre seus valores essenciais, considerar o caminho que levou até o momento atual e imaginar vividamente o futuro. Para fortalecer a postura exemplar, pense em um momento em que teve poder, se sentiu seguro e no controle, e foi sua melhor versão. E para desenvolver uma mentalidade de mentor, busque aprender com aqueles que estão abaixo de você na hierarquia.
Na primavera de 2009, em meio à crise financeira global que abalava mercados e empresas, o diretor-executivo de uma consultoria multinacional convocou uma teleconferência com todos os funcionários. As receitas haviam despencado, e todos temiam cortes de pessoal.
Como consultor externo, eu podia sentir a tensão no ar. Mas, quando o CEO começou a falar, sua voz calma e firme claramente tranquilizou sua equipe. Ele iniciou reconhecendo o estresse de todos: “Assim como muitos de vocês, passei várias noites sem dormir, preocupado com o futuro da nossa empresa e de cada um de vocês.” Em seguida, relembrou os princípios que norteavam a organização: “Como um de nossos valores fundamentais é o empoderamento dos funcionários, busquei soluções criativas para evitar demissões.”
Ele então apresentou um plano de ação claro e alinhado com esses valores. Todos teriam um corte salarial temporário de três meses, com reduções maiores para cargos superiores. Por exemplo, o salário de um funcionário iniciante diminuiria 15%, o de um vice-presidente cairia 40%, e o próprio CEO não receberia salário durante o período.
Ao pedir esse sacrifício compartilhado, ele também ofereceu algo em troca: “Estamos entrando nos meses de verão, quando a carga de trabalho é menor, então os escritórios fecharão ao meio-dia às sextas-feiras. Aproveitem para levar seus filhos à praia, fazer um longo passeio de bicicleta, ou um piquenique.”
Ele enfatizou que reavaliaria a situação em agosto, esperando restaurar os salários integrais até setembro. Por fim, fez um apelo à empatia: “Este é um momento difícil para todos nós. Apoiem seus colegas.” Após essas declarações, respondeu pacientemente às perguntas por 90 minutos.
Em uma situação crítica, enquanto dava más notícias, esse CEO encontrou uma forma de inspirar seus funcionários. E me deixou inspirado a estudar como líderes como ele conseguem fazer isso. Desde então, passei a investigar a ciência da inspiração e seu lado negativo no ambiente de trabalho.
Em pesquisas com milhares de pessoas ao redor do mundo, perguntei sobre suas experiências com líderes inspiradores e frustrantes. A análise dessas respostas revelou três descobertas importantes.
Primeiro, a liderança se move em um contínuo entre inspiradora e frustrante, dependendo de quão bem um líder desempenha três papéis fundamentais: visionário, exemplo e mentor. Em países como Austrália, Tailândia, Marrocos, China, El Salvador, México, Arábia Saudita, Israel e Alemanha, as pessoas esperam que seus líderes encarnem essa tríade.
Segundo, esses papéis são valorizados universalmente porque ajudam as pessoas a atender necessidades humanas fundamentais. Visionários proporcionam significado e propósito; exemplos oferecem paixão e segurança; e mentores trazem pertencimento e reconhecimento.
Por fim, ninguém é inerentemente inspirador ou frustrante. São os comportamentos atuais que determinam onde um líder se posiciona nesse espectro. O mesmo CEO inspirador da teleconferência mais tarde foi acusado de ignorar de forma frustrante o comportamento abusivo de alguns de seus executivos.
A boa notícia é que qualquer líder, mesmo se for percebido de maneira negativa ou neutra hoje, pode se tornar mais inspirador ao desenvolver e aprimorar suas capacidades nas três áreas-chave da liderança. Aqui está como fazer isso.
Visionário
Para ser considerado um visionário, é preciso apresentar a mensagem certa, da maneira certa e no momento certo. Primeiro, vamos abordar o conteúdo. Líderes inspiradores oferecem uma visão ampla, baseada em valores e otimista sobre o futuro, impulsionando as pessoas em direção a objetivos coletivos. Em contraste, líderes frustrantes são pessimistas, sem visão e desprovidos de valores.
A forma como a visão é apresentada também é importante. Líderes inspiradores reduzem uma ideia à sua essência, mas a trazem à vida com uma linguagem vívida, como demonstraram Drew Carton, da Wharton, e seus colegas em estudos com organizações, e como meus colegas e eu identificamos em contextos políticos. Por exemplo, “Fazer nossos clientes sorrirem” é mais persuasivo e motivador do que “Fazer nossos clientes felizes”. A combinação de simplicidade e vivacidade torna a informação mais fácil de processar, criando o que os psicólogos chamam de sensação de fluência, o que aumenta a retenção e o comprometimento.
Igualmente importante é a frequência com que a visão é apresentada, pois a repetição aumenta a fluência, a clareza e o entendimento, como Blaine Horton e eu descobrimos ao analisar palestras do TED e apresentações de empreendedores para investidores. Quando Frank Flynn, de Stanford, analisou quase 3.000 avaliações de liderança, constatou que os líderes eram 10 vezes mais propensos a serem criticados por comunicar pouco do que por comunicar demais.
Como entrar em um estado mental mais visionário? Pesquisas mostram que refletir sobre seus valores essenciais pode ajudar tanto a enxergar o panorama geral quanto a impulsionar a realização de metas. Por exemplo, em um estudo recente, indivíduos desempregados que refletiram sobre seus valores por 15 minutos tiveram o dobro de chances de conseguir um emprego nos dois meses seguintes, em comparação com aqueles que não fizeram essa reflexão.
Aqui está um exercício útil: Liste até cinco valores que são importantes para você. Agora organize-os em uma hierarquia, com o mais importante no topo.
A reflexão do CEO sobre o valor da sua empresa de empoderar funcionários o ajudou a criar e comunicar um plano claro para lidar com as consequências da recessão global. Você pode fazer algo semelhante para construir uma visão inspiradora para si mesmo e para sua organização.
Presenciei outro exemplo disso quando era um jovem professor assistente. Um dia, todo o corpo docente da Kellogg School of Management, da Northwestern, recebeu um e-mail anônimo acusando um de nossos colegas de fraude acadêmica. Indignados com a natureza obscura da acusação, muitos de nós saímos em defesa do colega, enquanto outros pediram uma investigação. Mas nosso reitor, Dipak Jain, acalmou a situação ao focar nos princípios institucionais. Lembro-me de que ele disse: “Embora eu esteja extremamente chateado com a acusação e minha primeira reação seja defender vigorosamente nosso colega, a integridade acadêmica é nosso valor central; ela orienta tudo o que fazemos. Portanto, uma investigação minuciosa não é apenas a coisa certa a se fazer, mas, no fim, será do melhor interesse do nosso colega.” Ao reformular a situação em torno de valores, ele inspirou todos a apoiar seu plano – e, felizmente, o professor foi inocentado de qualquer irregularidade.
Exemplar
Líderes inspiradores são calmos e corajosos, enfrentam perigos e protegem os outros. Também são genuinamente apaixonados, defendendo suas ideias e princípios com convicção e incorporando-os em suas ações. Essas emoções e comportamentos são contagiantes, incentivando os outros a serem resolutos, corajosos, entusiasmados e determinados.
Considere um estudo em que Jon Jachimowicz, de Harvard, outros três pesquisadores e eu analisamos apresentações de empreendedores no programa Dragons’ Den (versão internacional de Shark Tank) e descobrimos que aqueles considerados mais apaixonados tinham maior probabilidade de receber investimentos.
No entanto, as emoções e comportamentos de líderes frustrantes também são contagiosos. Eles podem gerar ansiedade, covardia, indiferença e estagnação nas pessoas ao seu redor.
Como ser mais exemplar? Em dezenas de estudos, eu e outros acadêmicos mostramos que relembrar momentos em que as pessoas se sentiram poderosas, no controle ou genuinamente apaixonadas as ajuda a incorporar essas qualidades. Essas reflexões podem tornar sua voz mais dinâmica, seus argumentos mais persuasivos e suas ideias mais criativas, além de ajudá-lo a manter a calma.
Recordar momentos em que se sentiu poderoso também pode ajudá-lo a enxergar o panorama geral, como Pam Smith, da Universidade da Califórnia em San Diego, e uma pesquisadora descobriram, além de infundir suas visões com otimismo, como Cameron Anderson e eu demonstramos. Acessar uma experiência em que você se sentiu excepcional permite que você incorpore essa força no momento presente.
Aqui está um exercício: Pense em um momento em que você se sentiu poderoso e no controle. Descreva a situação e por que se sentiu assim.
Vale destacar que refletir sobre seus valores pode ajudá-lo a permanecer exemplar mesmo em tempos de crise ou tentação. Caso contrário, você pode acabar se tornando o pior tipo de líder frustrante: um hipócrita.
Na ligação com toda a empresa, vi o tom calmo do CEO tranquilizar aqueles ao seu redor. Da mesma forma, a resposta de Dipak à acusação anônima de fraude expressou uma paixão autêntica e compreensível, ao mesmo tempo em que ofereceu um caminho reflexivo para seguir em frente. Para encontrar esse mesmo equilíbrio em momentos críticos, basta lembrar de situações no passado em que você conseguiu atingi-lo.
Mentor
Líderes frustrantes ignoram, diminuem e controlam os outros. Líderes inspiradores capacitam, elevam e demonstram empatia por suas equipes. Confúcio capturou perfeitamente os efeitos positivos dessa abordagem de liderança: “Diga-me e eu esquecerei; mostre-me e talvez eu me lembre; envolva-me e eu entenderei.”
Líderes inspiradores compartilham responsabilidades de liderança, por exemplo, permitindo que os membros da equipe conduzam ou ajudem a conduzir reuniões. Sherry Wu, da UCLA, realizou diversos experimentos de campo comparando reuniões lideradas por chefes com aquelas conduzidas pelos funcionários e descobriu que apenas 20 minutos semanais do segundo modelo aumentam a produtividade e a satisfação dos funcionários, além de reduzir a rotatividade. Aplico essa ideia em meus seminários de doutorado: a cada semana, um estudante diferente ajuda a guiar a discussão da aula.
Todos nós desejamos alguém que nos valorize, celebre nossas conquistas e nos oriente para sermos a melhor versão de nós mesmos. Um bom mentor compreende que diferentes pessoas têm necessidades distintas em momentos variados e se dedica a ouvi-las atentamente. Além disso, compartilhar o crédito pelos sucessos e assumir a responsabilidade pelos fracassos faz com que sejamos verdadeiramente admirados e respeitados.
Como se preparar para ser um mentor? Primeiro, busque novas ideias e conhecimentos em pessoas que ocupam posições hierárquicas inferiores. Ting Zhang, Dan Wang e eu descobrimos que refletir sobre uma situação em que aprendemos com alguém de nível mais baixo pode nos tornar mais engajados com os outros e mais propensos a oferecer conselhos bem elaborados e ajustados às necessidades de quem os recebe, melhorando a experiência do mentorado. Em segundo lugar, pratique a mudança de perspectiva, ou seja, tente enxergar o mundo pelos olhos dos outros, o que tem sido comprovadamente eficaz para aumentar a empatia.
Aqui está um exercício útil: tente observar o mundo a partir do ponto de vista de um colega. O que o motiva? Quais desafios ele enfrenta?
A empatia e o desejo de evitar que seus funcionários enfrentassem as dificuldades de uma demissão levaram o CEO a encontrar uma solução criativa. Ele também demonstrou empatia ao pedir que as pessoas se apoiassem mutuamente e ao responder pacientemente a dezenas de perguntas. Da mesma forma, Dipak mostrou compaixão pelo colega acusado e compartilhou nossa indignação com a denúncia anônima. Ele ouviu nossas preocupações e nos ajudou a compreender que uma investigação rigorosa era, na verdade, a melhor decisão tanto para o professor quanto para a instituição.
Como se manter inspirador
Cada um de nós tem o potencial de ser mais inspirador. Podemos aprender a ser visionários, exemplos e mentores empáticos.
Mas como manter essa inspiração ao longo do tempo ou até ampliá-la? Minhas pesquisas apontam quatro ações fundamentais: refletir, emular, intencionar e praticar – ou REIP. O acrônimo remete à palavra “reap” (colher, em inglês) porque acredito que a liderança, assim como o plantio, pode gerar bons ou maus frutos.
Comecemos pela reflexão. Uma vez por mês, analise os momentos em que você foi inspirador – e aqueles em que pode ter sido frustrante. Quando conseguiu ou falhou em enxergar o panorama geral? Quando sua mensagem foi simples e clara, e quando foi confusa? Quando demonstrou calma, coragem e paixão, e quando foi ansioso, medroso ou apático? Quando empoderou, elevou e demonstrou empatia pelos outros – ou quando deixou de fazer isso?
Em seguida, pense em um líder inspirador que você já teve e como pode emulá-lo. Acesse essa fonte de esperança e possibilidade. Depois, identifique exatamente quais aspectos dessa pessoa o motivaram. Como você pode replicar esse comportamento e inspirar reações semelhantes?
Agora, transforme suas reflexões e inspirações em intenções. Assuma um compromisso, ainda que pequeno, com um comportamento específico que adotará no próximo mês para ser mais visionário, um exemplo melhor ou um mentor mais eficaz.
Por fim, pratique ser inspirador no dia a dia. Por exemplo, sempre que estiver falando para uma equipe que deseja motivar, pense em como simplificar e tornar sua mensagem mais visual, para que isso se torne natural com o tempo. Ou pratique exercícios diários de respiração para ajudá-lo a manter a calma mesmo sob pressão.
Aqui está uma prática diária garantida para inspirar as pessoas ao seu redor: todas as manhãs, entre em contato com pelo menos um colega e elogie-o por um trabalho bem-feito ou agradeça por algo que facilitou sua vida. Um CEO me disse que gasta apenas alguns minutos por dia, durante o café da manhã, para valorizar alguém – e isso ilumina não só o dia da outra pessoa, mas também o dele. As respostas que recebe são entusiasmadas e cheias de gratidão, dando-lhe mais energia para o dia. Isso ilustra o círculo virtuoso da liderança inspiradora.
Fonte:
Uma versão deste artigo foi publicada na edição de março–abril de 2025 da Harvard Business Review.
Sobre o autor:
Adam D. Galinsky é professor de Liderança e Ética na Columbia Business School e autor de Inspire: The Universal Path for Leading Yourself and Others (Harper Business, 2025).